Por Karl Baier
Trecho do artigo “O que é um asana?”, publicado na revista Yoga Rahasya em 1995. Tradução livre de Maurício Frighetto.
Estar em equilíbrio significa estar constituído por princípios antagônicos de integração. Portanto, uma definição que descreve a essência do asana como equilíbrio tem também que definir esses constituintes primários opostos.
Em cada postura, duas tendências básicas contraditórias são acionadas, chamadas por Guruji de evolução e involução. Como em cada estrutura constituída por um processo de equilíbrio, elas sempre estão em perigo de se esmagar uma a outra, perdendo a equação. Portanto, a tarefa básica no processo de posicionar-se e reposicionar-se é para equilibrar evolução e involução.
Evolução é o movimento do centro para a periferia, de dentro para fora, dos músculos à pele, da fonte da atividade em direção à vastidão, a abertura do nosso mundo. Está conectado com esforço, fogo, suor e calor que despertam nosso poder adormecido. Evolução no asana “significa trazer a extensão ao seu máximo. Alguém poderia chamar isso de pravritti marga, a parte de atividade dentro da performance do asana, uma criação do espaço que abre o praticante para o mundo. De acordo com Guruji, esse princípio também tem uma analogia nos Yoga Sutras (II. 13-14), que descreve o primeiro dos dois meios necessários para obter a contenção das flutuações da consciência: abhyasa, um esforço dedicado e constante.
Involução é o movimento contrário, da periferia ao centro, de fora para dentro, da pele em direção aos músculos, do mundo em direção ao eu. São os elementos de relaxamento e entrega com expansão. Involução no asana significa o que é chamado na filosofia indiana como nivritti marga. Nos Yoga Sutras (I.15-16), este elemento corresponde a vairagya, liberdade dos desejos, desapego.
No que concerne à prática de asana, involução é um movimento escondido, mais interno do que evolução. Guruji deu um exemplo prático deste princípio em uma de suas palestras: “Estique sua mão. Você diz ‘oh, meu dedo está comprido’. Mas quando me alongo, vejo o quanto minha energia voltou mais para perto de mim. Na extensão, não olho para o comprimento da minha mão, mas para o comprimento da minha energia que vai das áreas periféricas para a minha mente. Isto é vairagya. Na minha prática, apesar de lhes parecer externa, sou um vairagyi por dentro” (70 anos gloriosos, p. 215).
As duas tendência do movimento, evolução e involução, parecem ser contraditórias. Mesmo assim, em uma postura correta, elas estão interligadas e mesmo se apoiam uma na outra. Quanto mais evolução, mais involução. Somente se nós nos abrirmos e nos estendermos ao máximo podemos quebrar as barreiras e entrar no núcleo interno porque a extensão perfeita cria um fluxo de consciência da periferia para a fonte da atividade, o centro do corpo e sua raiz no solo. Assim, a extensão completa aponta para o início e revela a fonte do movimento.
No seu livro Árvore do Yoga, Guruji compara o movimento duplo de evolução e involução com o movimento da vida dentro de uma árvore. Ao praticar o asana, você sente a energia “fluindo em seu sistema. Você sente como ela trabalha, como ela flui. Na árvore, a energia flui da semente para as folhas – e como as folhas entram em contato com o ar, elas geram a energia que retorna em uma jornada inversa através dos galhos e do caule até a raiz. E a raiz faz a árvore crescer ainda mais para produzir brotos, flores e frutos.” (Árvore do Yoga, p. 18).
O objetivo do asana ao equilibrar involução e evolução é tranquilizar a mente
Se evolução e involução, abhyasa e vairagya, pravritti marga e nivritti marga são equilibrados dentro do asana, uma nova tranquilidade emerge da consciência. O praticante está agora em um estado de equilíbrio e tranquilidade.
Calma e tranquilidade não são o mero oposto de movimento, mas sua perfeição. Um movimento equilibrado e sem obstáculos internos ou externos tem a qualidade de um fluxo calmo e constante. Isso não perturba o centro oculto da entidade em movimento, mas o revela. Portanto, a tranquilidade não é um vazio chato, onde nada acontece, mas a experiência máxima de abundância e vitalidade, conectada a uma estabilidade e centralidade que mantêm o praticante em constante contato consigo mesmo.
Tranquilidade não é ser intocável e inconsciente, mas significa a capacidade de se abrir ao universo e lembrar-se do núcleo da existência, mesmo em situações difíceis. Calma é a aparência da origem. Acontece quando a presença da fonte brilha sempre que somos tocados pela fonte do ser e nos tornamos calmos porque nossos desejos desaparecem quando sentimos uma abundância interior que não tem fim.
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