O yoga é a prática do recolhimento

Pedro Pessoa 

Ao sentar com a coluna ereta para fazer a invocação e meditar, é preciso ter liberdade na parte inferior do tronco e criar um espaço imenso no peito e ao mesmo tempo, o cérebro deve estar passivo. Porque as posturas sentadas trazem uma qualidade de reflexão. E é por isso que temos pouca paciência com as posturas nas quais nos sentamos: o nosso hábito de reflexão é muito pouco trabalhado. 

Quando nos sentamos, buscamos, com nossas ações, de forma gradual, nos prepararmos para um estado que nos remete à nossa profundidade, à nossa capacidade de se recolher. Todo o movimento de se sentar já tem implícito um movimento de recolhimento, de imobilidade. 

Todas as ações que fazemos têm o objetivo de dar uma chance para que este recolhimento aconteça. Ele não acontece a partir de uma força violenta que puxa ou empurra. Mas nós, através da nossa postura, das nossas ações, da nossa atitude, nos predispomos a este estado de recolhimento. É o que o Guruji chama de involução. Nos seus textos, ele nos propõe este caminho de involução, onde nos recolhemos. 

O yoga é a prática do recolhimento. A partir do corpo nós vamos em direção à nossa alma, ao nosso Atman. É onde a prática passa a ter uma nova conotação, anusthana. E nós começamos a compreender o que significa a prática a partir deste conceito de anusthana. É uma prática espiritual, devocional, religiosa. 

O yoga não nos ensina uma religião externa. Nos ensina a entrarmos em contato com nossa religião, com a religião interna de cada um. Essa religião interna é a única que pode trazer paz ao mundo. Em cada encontro que fazemos, cada esforço que fazemos nos nossos estudos, estamos exercitando a nossa religiosidade. A religião externa segrega, separa, reparte, fragmenta. A religião interna religa, reúne, concilia. 

Quando nós nos sentamos, continuamente e por um período longo de tempo, neste estado de abhyasa, gradualmente nossa prática vai se transformando em anusthana. Nós saímos do campo da técnica e do intelecto e começamos a entrar no campo do coração, do sentimento. Então nossa religiosidade se torna uma religiosidade prática, no nosso dia a dia, no convívio com outras pessoas e com nós mesmos. Não como algo que nós saímos pregando e falando apenas da boca para fora.