Costumamos ter pressa em quase todos os momentos das nossas vidas. Queremos terminar logo uma tarefa e, quando a concluímos, já estamos pensando na próxima atividade. Temos pressa para satisfazer uma vontade, mas, assim que conseguimos, já estamos desejando algo mais. É um processo que não tem fim.
Ouvimos seguidamente que yoga é estar presente. Mas até mesmo na prática de asanas somos movidos pela pressa. Nas aulas desta semana, os professores Camila de Lucca e Pedro Pessoa nos propuseram trabalhar com esse difícil desafio: praticar sem pressa, sem ansiedade, sem ansiar pelo fim de um asana ou mesmo pelo fim da aula. Para ilustrar e auxiliar nossa compreensão a prática foi permeada por uma linda história:
Havia um discípulo que queria alcançar a iluminação a qualquer custo. Buscando chegar a este estado de iluminação, ele fazia muito, mas muito mais do que o mestre o orientava: se era para acordar às 4h da manhã, acordava às 2h; se era para respirar oito vezes em uma postura, respirava 16; se era para jejuar um dia, jejuava dois; e assim por diante.
Certo dia, o mestre o perguntou: “Filho, o que está acontecendo, qual a sua preocupação? Por que você tem tanta pressa?”. O discípulo então explicou: “Quero alcançar a iluminação nesta vida, de qualquer jeito”. Ao que o mestre questionou:“Mas quem disse que a iluminação está na sua frente?”.
O discípulo fez um cara de não ter entendido nada. Então o mestre continuou: “Talvez a iluminação esteja atrás de você e não está conseguindo te alcançar”.
A história, explicou Camila, expressa um pouco a nossa situação, tanto na prática de yoga como na vida. “Às vezes, quando praticamos yoga, temos pressa para sair logo de um asana e ir para o próximo. Temos pressa para acabar a aula, pressa para fazer o que vai acontecer amanhã, no mês que vem, no ano que vem. E, dessa forma, nos afastamos deste estado luminoso, deste estado de presença.”
Na tradição yóguica, disse Pedro, a pressa é como se fosse um bicho que nos come por dentro. “É como se fosse aquele cupim que come nossa estrutura, nos enfraquecendo, nos fragilizando. A pressa tem um movimento de nos levar para fora, para a superfície. Nós devemos transformar o nosso estado de pressa, de ansiedade, num estado de calma, de paz, de tranquilidade.”
Estar consciente deste “bicho que nos come por dentro” é uma forma de superá-lo. Outra possibilidade de transformar a pressa em um estado de calma é a permanência nos asanas. Em qualquer postura que estivermos, devemos aprender a ter calma e tranquilidade. E quanto mais praticarmos, mais oportunidades teremos para aprendermos a atingir esse estado de presença.
Texto Maurício Frighetto
Edição Daniela Caniçali
Foto Luiz Frota