É muito comum nos sentirmos frustrados e desapontados quando não concluímos determinado asana – isto é, quando não chegamos ao estágio final de uma postura. No entanto, o objetivo do yoga está longe de atingir uma suposta postura perfeita. Nas últimas aulas, Camila de Lucca e Pedro Pessoa, ao trabalharem com o conceito de dharma, enfatizaram que o importante na prática – e também na vida – é seguir no caminho correto, buscando colocar cada vez mais qualidade nas nossas tarefas.
Dharma pode ser descrito como dever ou propósito. Mas o que acontece se não conseguimos realizar nossos objetivos? “Na definição de dharma no Bhagavad Gita não importa o cumprimento das tarefas, ou se podemos terminá-la com perfeição. Krishna diz, inclusive, que como são intermináveis as tarefas que nós nos propomos como seres humanos nem sempre as completamos”, explicou o professor Pedro Pessoa.
Por mais que alguém chegue em um momento da vida com a sensação de ter completado sua tarefa, sempre terá algo mais a fazer: é preciso compreender que não existe um fim. A mesma lógica vale para os asanas: “Então, quando nós não completamos um asana, não deve existir nenhum sentimento de frustração”, completou Pedro.
Seguidamente os professores nos guiam nas posturas por etapas – cada uma delas mais complexa que a anterior. No entanto, eles costumam frisar que devemos nos observar e sentir as nossas limitações. Se, em um determinado dia, o corpo pede que não avancemos, devemos ouvi-lo e ponderar a forma de seguir adiante. Os props também nos ajudam neste sentido: usar um cinto ou blocos para manter braços, pernas ou coluna estendidos não significa fazer menos yoga.
A professora Camila de Lucca usa o exemplo de paschimottanasana para explicar como é possível avançar mais, independente de onde nós estejamos. “Mesmo se você tocar com o tronco nas pernas, sempre tem algo mais para descobrir, para se aprofundar. É um movimento onde você vai colocando cada vez mais qualidade no que faz, se aperfeiçoando, entrando em um nível de consciência mais refinado”.
Estar no caminho certo, portanto, é procurar colocar mais qualidade naquilo que fazemos, seja nos asanas, seja na vida. “Quando praticamos, não importa se nós alcançamos o estágio final de um asana, desde que nos movamos na direção correta”, afirmou Pedro. “Não importa se na vida nós completamos uma determinada tarefa. Porém, se nós estivermos no caminho correto, na direção correta ao realizarmos aquilo que estamos fazendo naquele instante, nós estamos de acordo com nosso dharma.”
Texto: Maurício Frighetto
Edição: Daniela Caniçali