Yoga: um caminho que nos conduz à nossa essência

“Através da prática constante de yoga, nós podemos descobrir e sentir quem realmente somos.” Com essa frase, a professora Camila de Lucca sintetizou os ensinamentos de uma história que nos contou durante a aula online dessa terça-feira (14/04). Ouvimos essa reflexão quando estávamos em shavasana, um momento muito propício para entrarmos em contato com nossa essência. Segue a história:  

Um sábio e sua esposa queriam muito ter um filho, mas não tinham sido agraciados com essa dádiva. Certo dia, buscando obter esta graça, o sábio foi até a beira do rio e fez o pedido aos Deuses. Naquele exato momento, voava acima dele uma grande águia segurando um ratinho em seu bico, que justamente naquele momento o bicho se soltou e caiu bem nas mãos do sábio.

Ele levou o ratinho para casa, e a esposa ficou encantada ao vê-lo. Concluíram que aquela era a filha enviada pelos Deuses – filha porque o animal era uma fêmea. Então o sábio proferiu uma série de mantras que tinham o poder de transformá-la em um ser humano. Aquela ratinha ganhou então a forma de uma linda menina.   

A família viveu feliz até que a criança tornou-se adulta e chegou o momento de se casar. O sábio decidiu buscar um marido para a filha entre os Deuses. Convidou primeiramente para conhecê-la o Deus do Sol, Surya. Mas a filha logo o rejeitou: “Ele é muito quente e brilha demais.” 

Então o pai perguntou a Surya: “Quem você sugere que se case com minha filha?” Ao que Surya respondeu: “O Deus das Nuvens, porque absorve meu calor e minha luz”. Quando o Deus das Nuvens chegou, a menina novamente reclamou: “Morro de medo de raios e trovões!” 

O Deus das Nuvens, por sua vez, sugeriu o Deus Vento como marido, porque o vento dissipa seus raios e trovões. Mas ele tampouco a agradou: “Ele é muito frio e úmido!” Já o Deus Vento indicou o Deus Montanha, que absorve o frio e a umidade das nuvens. “Mas a montanha é muito dura!”, alegou a menina, insatisfeita. 

Então o Deus Montanha sugeriu que ela conhecesse um rato que vivia aos seus pés e era o único que conseguia perfurá-lo. “Pode ser um bom esposo para você”, aconselhou. Quando seu pai trouxe o ratinho, a menina imediatamente se apaixonou: “É com ele que quero me casar!” Então o sábio contou a verdade para a filha: ela era essencialmente uma ratinha. E como desejava a felicidade da filha, ele decidiu refazer os mantras para transformá-la novamente em uma ratinha. Os dois animaizinhos partiram juntos e viveram felizes.

O conto, de acordo com Camila, nos mostra a força da nossa natureza, da nossa essência: “Nossa situação é inversa, porém. Somos seres humanos, mas vivemos como ratos, nos sentimos pequenos como ratos.” Precisamos, portanto, nos aproximar da nossa verdadeira natureza. Só assim estaremos plenamente realizados e felizes.

O foco da aula foram as posturas de torção, que, segundo Camila, nos ajudam a ir cada cada vez mais para dentro. “Quando torcemos, quando nos movemos, conseguimos ver as coisas por outro ângulo e mudar de direção. Ao estarmos em contato com o nosso centro, podemos ser aquilo que naturalmente somos. O ser humano, quando tem sabedoria, aproxima-se dos deuses e não dos ratos.” 

Nós todos temos um dharma, que pode ser entendido como um dever, um propósito. “Essencialmente, o dharma do ser humano é trazer luz para a terra. Quando você se conecta com a sua essência, com sua verdadeira natureza, você pode expressar essa luz, esse calor. Você aprende então a se ouvir. E ouvir não é ficar conectado neste falatório da mente; ouvir é estar neste estado onde você observa, contempla, onde é uma testemunha divina. Deixe que todas as ideias que fazem você acreditar que é pequeno como um rato se dissolvam. O ser humano é grande, é poderoso. Procure sentir este poder vibrando dentro de você. Como diz na Bíblia, nós somos feitos à imagem e semelhança de Deus.”

Texto: Maurício Frighetto

Edição: Daniela Caniçali