Śaucha: yoga como um processo de purificação

Temos observado a importância das medidas de higiene para a proteção de cada indivíduo e da sociedade como um todo. Na tradição do yoga, bons hábitos como tomar banho, lavar as mãos e praticar em um ambiente limpo são fundamentais. No entanto, há um aspecto ainda mais profundo desse tema: a limpeza interna. Em uma aula recente, o professor Pedro Pessoa trabalhou o conceito de Śaucha, que nos ajuda a refletir sobre essa questão.

Desde o início da aula, o professor pediu para criarmos respirações mais longas e profundas. “As respirações são como ondas que nos lavam, que nos purificam.” Enquanto praticávamos cada āsana, ele nos contou a seguinte história:

“Numa cidade da Índia chamada Paithan vivia o santo Ekanatha. Diariamente, antes de seus afazeres, ele se banhava nas águas sagradas do rio. Certo dia, quando saiu da água, um mendigo esbarrou e cuspiu no santo. Calmamente, Ekanatha voltou ao rio e se banhou novamente. A cena se repetiu inúmeras vezes, até que ao final da tarde, o mendigo se prostrou aos pés do santo e pediu desculpas.

Ekanatha respondeu: ‘Você não precisa se desculpar, eu é que tenho que agradecer. Toda vez que você esbarrava em mim e cuspia, após ter me lavado, eu voltava e dava mais um mergulho no rio. Assim tive a oportunidade de tomar diversos banhos. E toda vez que eu me banhava eu vocalizava o nome de Deus, o nome de Vishnu.’”

Ao vocalizar o nome de Deus a cada banho, explicou Pedro, o santo purificava não apenas o corpo, mas a mente e todo o seu ser. Então, durante a prática, o professor nos orientou a mantermos uma respiração longa, profunda, suave e serena. “Sinta como se cada respiração fosse um mergulho que você desse nas águas sagradas do seu próprio Ser. Inspira e exala, vocalizando internamente, em silêncio, a sílaba sagrada OM”.

Śaucha, portanto, não significa apenas medidas de limpeza externa. “É uma atitude interna através da qual você acessa um estado de purificação. Nós usamos o yoga para nos purificarmos. Os āsanas não devem apenas tornar o corpo mais flexível, eles nos ajudam a limpar o corpo, a mente, e o coração.”

Texto Maurício Frighetto

Foto Luiz Frota