Dharma pode ser entendido como dever, propósito. Seria a “missão” de cada um de nós nessa jornada que é a vida. Todos temos um dharma e devemos nos empenhar para realizá-lo. Entretanto, precisamos enfrentar obstáculos nesse caminho, os quais muitas vezes nos dão a sensação de que “fracassamos”. Para desempenharmos plenamente nosso dharma, precisamos primeiramente aprender a dominar nosso próprio ego.
“O ego não permite que o dharma seja exercido de forma apropriada, por isso estamos sempre frustrados”, explicou Pedro Pessoa. Durante as duas aulas de yoga online dessa semana (13/04 e 15/04), o professor desenvolveu esses conceitos filosóficos, associando-os à prática de asanas. Para nos ajudar a compreendê-los melhor, Pedro contou-nos a seguinte história:
Havia um rei muito poderoso que vivia próximo dos animais e tinha uma grande paixão pelos macacos. Todos os dias, ele ia para a sacada do palácio e os alimentava. E sempre chamava sua atenção um macaco em particular, devido à inteligência que demonstrava.
O rei então passou a treinar esse animal para servi-lo. Com o tempo, o macaco ganhou novas habilidades e ficou cada vez mais próximo do monarca, tornando-se seu braço direito. Certo dia, ao chegar muito cansado de uma longa caminhada na floresta, ele dirigiu-se ao macaco: “Preciso descansar e dormir. Você deve manter a guarda, me proteger e não deixar ninguém me despertar do sono.”
Enquanto dormia, uma pequena mosca começou a sobrevoar o rei. “Não é possível!”, pensou o macaco. “Não posso deixar que nada perturbe o sono do rei.” Tentou espantá-la com as mãos, mas não conseguiu. Então procurou algo para matá-la e encontrou uma adaga – algo parecido com uma faca ou espada bem cortante.
A mosca voava de uma lado para outro, até que pousou no peito do rei. Quando acordou, o soberano viu o macaco com a adaga apontada diretamente para seu peito. Ficou assustado e sem entender o que estava acontecendo. Mas o macaco mostrou a mosca e o rei compreendeu a situação.
Naquele instante, o rei percebeu como foi tolo ao permitir que um macaco fosse seu guardião, o responsável por algo tão precioso como sua própria vida. Daquele dia em diante, decidiu que ele mesmo cuidaria de si. O macaco seguiu ao seu lado, mas agora apenas como seu animal de companhia.
O macaco, segundo o professor, simboliza nossa mente, nosso ego: “Todo o trabalho do yoga é feito justamente para nos mostrar o quanto somos governados pela mente, pelos pensamentos, pelo ego.” Para evitar sermos governados pelo ego, precisamos nos esforçar, praticando continuamente, sempre conscientes de que esse é um caminho longo e que leva tempo.
Mas podemos nos sentir um pouco mais próximos desse estado de controle da mente quando estamos em savasana, conforme expôs Pedro: “Quando o ego e a mente comandam nossa vida, nossa essência corre perigo. Nosso savasana deve ser um savasana onde o rei está desperto. Todo o seu corpo deve estar relaxado. Porém, você está completamente desperto, consciente. É nesse instante que cada coisa vai para seu devido lugar, que todos os membros do seu corpo realizam um mesmo dharma. Nesse momento podemos sentir essa luz que habita nosso peito.”
Texto: Maurício Frighetto
Edição: Daniela Caniçali
Foto: Luiz Frota