Pausas durante a vida ocorrem por diversos motivos. Nesse momento, muitos de nós tivemos que parar a maioria das nossas atividades por conta de uma força externa. No yoga, entretanto, interromper nossas rotinas é fundamental em certas ocasiões. Dessa forma conseguimos nos transformar e evoluir. A professora Camila de Lucca nos conta uma história para entendermos essa relação entre o fazer e o parar.
“Em uma cidade antiga, era tradicional o Festival dos Lenhadores, uma competição onde vencia aquele que cortasse a maior quantidade de lenhas durante um dia. Como era uma ocasião especial, todos participavam, desde jovens até velhos, das mais diferentes profissões. Durante uma das disputas, enquanto os jovens fortes trabalhavam com vigor e sem descanso, um ancião fez uma pausa, descansou e então retomou sua atividade. Depois parou novamente e retomou o trabalho. Fez isso diversas vezes seguidas ao longo de todo o dia.
Em um determinado momento, os jovens ficaram intrigados: observaram que, por mais que trabalhassem sem parar, suas pilhas de lenha não aumentavam. Já o monte do ancião crescia progressivamente. E, no fim do dia, foi anunciado o vencedor: o ancião.
Todos ficaram surpresos e teve início um burburinho. Até que um jovem se dirigiu àquele senhor e falou: ‘Mas como assim o senhor venceu!? Nós não paramos para descansar um minuto sequer, enquanto o senhor parou diversas vezes!’. Calmamente, o ancião respondeu: ‘É que, em cada uma das pausas, eu não parava para descansar, mas sim para afiar meu machado.’”
A professora Camila faz algumas analogias entre essa história, a prática de yoga e o momento pelo qual estamos passando: “Podemos usar este tempo para ‘afiar nosso machado’. Devemos usar o recolhimento para praticar yoga e depois voltar ao mundo com uma nova qualidade. Dessa forma, com os instrumentos mais afiados – uma mente mais atenta e lúcida e um coração mais calmo – estaremos mais fortes e com maior vitalidade.”
Na própria prática do yoga também é possível compreender a importância dessas pausas: “Há momentos da aula em que são realizados āsanas para nos recolhermos. Precisamos nos acalmar e relembrarmos o que realmente deve ser feito. Então podemos voltar para āsanas mais difíceis, mais intensos. Essa pequena parada é o tempo que precisamos para nos afiar”, explica a professora.
E todos os āsanas da nossa prática nos afiam para o auge do trabalho, o Śavāsana. “Entrar em Śavāsana é praticamente entrar em Samadhi. É o momento de experimentar a morte do corpo e de render a mente e o coração para a alma, para o ser divino. E para atingir este estado, é preciso que estejamos extremamente afiados, que tenhamos cortado todas as lenhas e os obstáculos que nos impedem de alcançar a nossa profundidade.”
Texto: Maurício Frighetto. Revisão: Daniela Caniçali. Foto: Luiz Frota. Supervisão: Camila de Lucca