Por B.K.S Iyengar
Artigo da revista Yoga Rahasya, que reúne textos publicados entre 1994 e 1996.
Os asanas têm um grande papel na correção dos defeitos da matéria (corpo) e da energia (prana), que são educados para se mover na direção do refinamento da inteligência e da consciência. A estrutura do asana não pode mudar porque cada asana é uma arte em si. Mas quando o sadhaka realiza o asana, ele faz o seu melhor. É preciso estudar a estrutura de cada asana, mensurando aritmética e geometricamente as dimensões e analisando as formas, para que a forma e o conteúdo real de cada asana seja expressado na apresentação.
Asanas podem ser na forma de ângulos ou triângulos, retos ou oblíquos, círculos ou arcos, arredondados ou em formato oval. Deve-se notar todos estes pontos em cada asana observando e estudando e então agindo no campo – o corpo – para realizá-lo na sua glória intocada. Isso significa total envolvimento de todo o corpo com os sentidos, mente, inteligência, consciência e o Eu. É preciso ter cuidado para não criar espaço para o vazio e para o esquecimento no corpo conhecido e desconhecido do praticante.
Não é correto praticar asanas de acordo com a flexibilidade e mobilidade. Deve-se modelar o corpo ao asana e não fazer o asana caber dentro do corpo. Ao mesmo tempo não é ético fazer a postura na sua própria conveniência. É necessário estudo constante e diversas tentativas para educar e modelar os membros do corpo a fim de que se encaixem dentro de cada asana.
Conheça a estrutura, o processo e as funções de um asana e suas interfaces com o corpo, mente e alma. Em cada asana é preciso sentir o fluxo da inteligência e da consciência da periferia do corpo em direção ao centro (o atman) – e do atman em direção à periferia. Asana não é uma postura em que alguém entra e sai mecanicamente e sem pensar.
Primeiro, é preciso configurar a estrutura de um asana e perceber os pontos básicos ou fundamentais espaçando com esforço o corpo estrutural ou anatômico, ajustando e organizando os membros para colocá-los em movimento.Então é preciso moldar o corpo para colocá-lo dentro da estrutura do asana. Resistência e movimento devem se mover em concordância. A distribuição do peso deve estar nos músculos, ossos, ligamentos, mente e inteligência.
Talhe a jóia do corpo como um bem – talhe o diamante criando espaço nos músculos e pele, de modo que a fina rede do corpo se encaixe dentro do asana. Isso ajuda a percepção dos sentidos a conhecer a ação conativa. Esta conjunção entre órgãos de ação e percepção dos sentidos traz reflexão nos pensamentos, e o entendimento subjetivo começa a induzir os reajustamentos. Então começa-se a agir, reagir, refletir, reajustar, corrigir – praticando o melhor de forma consciente.
Pode-se ir além das ações e sentimentos sutis em direção a um maior crescimento da sensibilidade na consciência da inteligência, de modo que o corpo com a mente e a consciência se aproximem do Eu. A força da vida então se aproxima da pele para o Eu, e do Eu para a pele, introduzindo a nova luz do discernimento para a evolução de purusha (atman) e involução da matéria (prakriti) unidas. Então, harmonia e equilíbrio, contra peso e sensibilidade entram em cena. O fazedor, o corpo e o asana se tornam um – três em um.
A partir daqui, o sadhaka usa o corpo como um arco; os asanas como flechas para acertar o alvo – o atman. O yoga é praticado em quatro estágios: arambhavastha, ghatavastha, parichayavastha, nishpathyavastha.
No arambhavastha, os asanas são feitos objetiva e mecanicamente. No ghatavastha, pratica-se com uma série de ajustes. Então tenta-se familiarizar a mente e a inteligência com a postura. Isso é parichayavastha. Então se faz uma postura perfeita com absoluta consciência, onde as divisões desaparecem, e o asana, o corpo e a alma se misturam. Isso é nishpathyavastha.
Tradução livre de Maurício Frighetto
Yogasanas: A Procura do Infinito no Corpo Finito (parte 1/3)
Yogasanas: A Procura do Infinito no Corpo Finito (parte 3/3)